Filme em realidade virtual que discute alienação em tempos de algoritmos, “O Burocrata” é a nova produção do Núcleo 2
Discutindo temas como alienação, vigilância e ilusão de liberdade na era das realidades simuladas, o Agrupamento Núcleo 2 faz a partir deste sábado, dia 27 de setembro, uma série de exibições gratuitas, a maioria ao ar livre, de sua mais nova produção, o curta “O Burocrata”. O projeto do coletivo multimídia de pesquisa e fusão de linguagens artísticas é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) em São José do Rio Preto, sua cidade-sede.
No sábado, às 19h, tem a pré-estreia no canteiro central da Avenida José Munia, altura do número 7.085, no bairro Jardim Vivendas. Depois, o filme segue em minitemporada com sessões na Praça Setpar (domingo, 28 de setembro, 16h); Plaza Shopping (quinta, 2 de outubro, 19h); Praça São Benedito, na Santa Cruz (sexta, 3 de outubro, 19h); e, por fim, Praça da Matriz de Talhado (sábado, dia 4 de outubro, 17h).
As sessões acontecem no formato de videoinstalação imersiva, contendo quatro óculos de realidade virtual exibindo o curta simultaneamente durante duas horas e uma instalação binaural interativa, oferecendo uma sonoridade que envolve o público ouvinte. Além disso, espectadores podem escanear QRCodes para obter informações extras à história.
Com roteiro e direção de Jef Telles, que também interpreta o protagonista, “O Burocrata” acompanha o personagem Daniel, funcionário de uma grande corporação como controlador de pessoas. Detém o poder de tomar decisões em prol de um sistema que rouba o tempo dos sujeitos em troca de um pequeno salário. Em dado momento de sua vida e com a ajuda do professor Diógenes (Diógenes Sgarbi), começa a se questionar sobre o próprio trabalho e o sentido da vida, descobrindo minimamente que é um ser alienado. O sistema rapidamente corrige esse desvio. O funcionário Bruno (gerado por IA), outro controlador, assume o perfil de Daniel, isolando-o por 68 horas num domo próximo à natureza.
A
ideia do projeto começou em 2023, quando Jef Telles concretizou o desejo de
trabalhar com vídeo em 360 graus, produzindo “O Carteiro”. “Eu fui sozinho para
um glamping na cidade de Ibiúna e passei quatro dias nesse lugar, finalizando o
roteiro e captando imagens que, na época, não sabia exatamente se ia virar um
curta de suspense, um vídeo-arte com algo mais lúdico ou um vídeo-poema (acho
que no final das contas “O Carteiro” é um pouco de tudo isso)”, conta o
diretor.
Antes
da escrita do roteiro, Jef Telles convidou o cientista social Diógenes Sgarbi
para uma roda de conversa sobre o conceito do trabalho na perspectiva do alemão
Karl Max (1818-1883), ponto de partida para a pesquisa. Para Marx, o trabalho
no capitalismo torna-se uma mercadoria alienada e explorada – os trabalhadores
produzem mais valor do que recebem em salário (mais-valia), enriquecendo os
donos dos meios de produção.
“As ideias que norteiam o filme são a da alienação, da vigilância e a ilusão de liberdade na era das realidades simuladas. A jornada do personagem Daniel, um burocrata que opera vidas dentro do simulacro ‘Hedonista’ não é apenas a história de um homem tentando romper um sistema, mas também um comentário direto sobre o aprisionamento voluntário em ambientes virtuais e a passividade com que aceitamos algoritmos decidindo destinos”, atesta Telles.
Inicialmente,
a produção se daria por captações em 360 graus, utilizando locações reais de
São José do Rio Preto. Ao longo do trabalho, optou-se por uma plataforma
geradora de cenários e a ferramenta mudou o curso de desenvolvimento da obra,
trazendo outras camadas para a narrativa como, por exemplo, a atmosfera de um
mundo distópico. Isso fez com que o coletivo, depois de inúmeros estudos,
gravasse a maioria das cenas em fundo verde, pelo profissional Guilherme Di
Curzio.
Ainda durante o processo, o artista Jef Telles produziu um curta infantil chamado “A Cabeça do Menino Invisível”, sem diálogo com “O Burocrata”, mas que serviu de experimento para a viabilidade do projeto.
Reunindo uma equipe de mais de 20 pessoas, a exibição do filme se dá no formato de vídeoinstalação, onde espectadores, para além dos óculos de realidade virtual, podem escanear QRCodes a fim de obter informações complementares à narrativa. Além disso, instalação binaural interativa cria uma imersão sonora. A obra também conta conta com audiodescrição e interpretação em Libras.
Serviço:
Curta “O Burocata” (Agrupamento Núcleo 2 – São José do Rio Preto/SP)
Pré-estreia: sábado 27/9, 19h, no canteiro central da Avenida José Munia, altura do número 7.085,
Jardim Vivendas
Datas e locais da minitemporada: domingo (28/9), 16h, Praça Setpar; quinta
(2/10), 19h, Plaza Shopping; sexta (3/10), 19h, Praça São Benedito, bairro
Santa Cruz; sábado (4/10), 17h, Praça do Distrito de Talhado.
Duração: 11
minutos (total de duas horas de exibição simultânea para quatro pessoas por vez)
Classificação indicativa: 14 anos
Acessibilidade: Libras e audiodescrição
Ingresso: gratuito
Canais: @artenucleo2 e www.nucleo2.com.br
Em um futuro onde a realidade é gerida por um simulacro, Daniel é um burocrata programado para controlar vidas. Sua rotina é abalada quando se depara com uma frase enigmática. Movido pelo impulso de liberdade no metaverso, existe brecha para a ruptura? Curta em realidade virtual sobre alienação, produtividade e manipulação.